quinta-feira, novembro 16, 2017

As cartas não mentem jamais


Conheci o Mauro Castro (virtualmente) já faz um tempão. Como assim, um taxista que escreve tão bem?? Primeiro, não acreditei, achei que era truque de algum escritor famoso, um pseudônimo do Luís Fernando Veríssimo (de quem também sou fã). 
Mas não... o Mauro é taxista de verdade e mora em Porto Alegre. Ele até já deu entrevista para a Fátima Bernardes. Sabe aquelas pessoas que têm o dom? Pois então. O Mauro é desses. O táxi é a desculpa para ele coletar e contar histórias pitorescas, engraçadas, curiosas e inesperadas. Mas hoje, ele contou uma linda história de amor. E eu pedi sua permissão, gentilmente concedida, para reproduzi-la aqui no Consulta Sentimental. Delicie-se......
***
Chuva batendo, trânsito lento, passageirinha de 91 anos, resolve contar sua história a este taxista metido a escritor.
- O senhor pode escrever, é tudo verdade. Noivei com 15 anos, muito novinha, mas logo meu noivo, que já servia à Aeronáutica, foi enviado para os Estados Unidos, para fazer um curso. Ficou lá por 5 longos anos. Nos correspondíamos por carta. O carteiro da minha rua já sabia: quando chegava correspondência da América, ao invés de apenas largar na caixa, ele gritava "carteiro!", gostava de me ver feliz, aos pulos, ele era jovem como eu, também tinha a urgência do amor, me entendia. Foram centenas de cartas. A grande guerra, o mundo em chamas, meu noivo ganhando importância, piloto, professor, promovido, medalhas, quando finalmente conseguiu voltar para o Brasil, ficou retido no Rio de Janeiro, novos cursos, treinamentos, Força Expedicionária Brasileira, as cartas, milhares, cartas longas, chegando, sendo enviadas, o tempo passando, sete anos, o amor crescendo, a cada nova carta o coração batendo mais forte, antes que meu noivo voltasse, uma carta de despedida, o tempo passou, tempo demais, tantas cartas. Quando ele finalmente voltou ao Rio Grande do Sul eu já estava casada. Casada com o carteiro. Vivemos felizes por 65 anos.


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