quarta-feira, janeiro 24, 2018

Para ela, com amor

De vez em quando, o Consulta Sentimental tem a enorme honra de receber um dos primorosos textos da amiga Luciana Praxedes, que nos brinda com seu imenso talento literário. Segue mais um dos seus contos. Delicie-se.

Para ela, com amor

Ela prometeu que não escreveria. Que não faria contato, que não provocaria. Prometeu para ela e para você. Mas cada palavra atravessada, cada olhar cruzado, cada verbo seco a fizeram ter coragem de escrever para contar que ela sabe que chegou ao fim. Que ela sabe do silêncio. Ela sabe que você não é mais. Não está mais.

Por isso ela empacotou as caixas. As caixas de boas lembranças. São suas agora, se você quiser. Você não quis conversar, não quis explicar. Ela entende. Por isso pode levar. Leve cada caixa e faça o que quiser com elas, pois ela já guardou tudo em seu devido lugar. Na proporção que merece ter. Cada sorriso, cada beijo, cada lágrima. Tudo guardado, cuidadosamente. Está tudo aqui. Sempre estará.

Ela sabe que tudo foi do jeito que tinha que ser. Ela queria ter falado, ter gritado, ter tido a chance de compreender. Mas ela percebeu que seria inútil ignorar o fim. Deve ser por isso que o fim guarda uma espécie de serenidade que só acontece quando as lágrimas secam, quando já não há esperança de reverter o final do filme. O fim é esgotar as alternativas, é não acreditar em desculpas. É encaixotar cada memória. É deixar doer.

Fique com elas. Fique com as boas lembranças. Abra cada caixa com cuidado e com zelo. Com amor. Guarde-as, por favor. Mas apenas se quiser. Ela e você têm uma vida inteira para preencher novas caixas. Para gostar. Para desgostar. Para sofrer. E gostar de novo. Fique bem, porque ela, um dia, também se sentirá melhor...


Luciana Praxedes
14 de janeiro/2018

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